domingo, 18 de dezembro de 2011

Chaos

Ser boa pessoa é fácil, o difícil é ser-se justo. Connosco e consequentemente com os outros. Quando nos limitamos a ser boas pessoas e pensamos no que é ou não melhor para nós julgamos muitas vezes estar a fazer o melhor para os outros. Mas quem nos deu o direito de tomar decisões das vidas que não são nossas? Como podemos nós ter a certeza que o que achamos correto e nos ajuda a minimizar o estrago é efetivamente o que faz alguém feliz? Sermos justos não passa apenas por fazer o que está certo para nós mas sim o que não vai causar qualquer tipo de sofrimento aos outros sem que eles o tenham merecido.
Dou por mim a pensar em tudo o que se disse e em tudo o que se fez. Se fazemos algo que sabemos ser errado, porque sabemos quase sempre distinguir o certo do errado, não pode ser apenas porque nos dá na telha. Tudo tem um motivo. E mesmo que outros não o considerem válido temos sempre resposta para tudo. Porque é que gostas de comer gelados no inverno em vez de beber chocolate quente? Porque os gelados me lembram o verão, e essa é a estação que me deixa sempre mais feliz e bronzeada. É o que me faz sorrir. Se posso sorrir, porque não?
Ninguém olha para os outros. Ninguém nos vê realmente. Ninguém toma conta de nós. E quando alguém se aproxima de nós sem segundas nem terceiras intenções, ou mesmo que as haja e que sejam boas, desconfiamos. Não acreditamos que possa existir alguém que respire bondade. E sim, eu desconfio das pessoas boas. Eu desconfio de mim. Sou boa pessoa. Tenho plena consciência disso. Cometo erros todos os dias. Magoo algumas pessoas que não merecem. Nos dias em que acordo com a neura, digo sempre que não sei porquê, que não tenho motivo, mas sei que foi por causa do maldito pesadelo que teima em visitar-me algumas noites, às vezes muitas vezes seguidas, nessas manhãs de neura não sou boa pessoa, sou rude, sou mal-educada, esqueço-me de dizer bom dia, obrigada e se faz favor. E essas manhãs na maior parte das vezes prolongam-se por dias inteiros. Não ligo todos os dias para quem gostava, ou porque me esqueço ou porque simplesmente não me lembra. Ainda não plantei uma árvore. Às vezes não faço reciclagem, mas nunca me esqueço de não atirar lixo para o chão. Isso e muito mais faz de mim uma boa pessoa. Mas será que sou justa? Quando pensei que estava sozinha quando mais precisava de alguém e nem o telemóvel tocou, não deveria ter pensado que não tinha contado a ninguém portanto era apenas mais um dia normal em que a Andreia não lhe apetecia aparecer para o mundo?
Luís de Matos disse numa entrevista à relativamente pouco tempo:
 “Por muito mau que seja aquilo que te esta a acontecer é facílimo fazer uma lista pelo menos de 10 milhões de nomes de outras pessoas como nós cuja realidade é muito pior. E cujo sofrimento é incomparável. E ainda que toda a gente diga que com o sofrimento dos outros podemos nós bem devemos utilizar o dito sofrimento dos outros para pelo menos colocar o nosso em perspectiva. É mau, é desagradável? Claro que sim, já é sofrimento, mas podia ser muito pior.”
Não sei até que ponto posso estar eu também a ser injusta mas tento ver as coisas de uma forma racional. Já está, já foi, já passou. Não passou? Mas vai passar! Sabes porquê? Porque as pessoas têm uma vida demasiado ocupada para ainda terem de se ocupar com a vida dos outros. Ainda que te olhem com alguma crítica agora, quando te virem sorrir depois a felicidade é muito maior. Não te vou dissuadir nem te vou dizer que não tens razão. Embora eu seja dessa opinião. Não o vou fazer. Posso apenas sublinhar o que já tinha dito anteriormente. Não podemos apagar nada do que fazemos. Ainda não existe a borracha para a vida! E ainda bem. Porque senão passávamos a vida a apagar o quadro e a tentar um novo exercício mas a uma determinada altura já não nos lembrávamos do que nos tinha levado ao resultado. Tenta ser um pouco mais justo contigo. E quando pensares nos outros por favor lembra-te também de mim. Apesar de eu me sentir uma parte de ti e de te ter como uma parte de mim, inclui-me nos outros e pondera também o meu sofrimento. E não, hoje não era apenas uma dia em que eu não queria aparecer para o mundo. Era o dia em que precisava de ti. 

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