sábado, 26 de novembro de 2011

O mundo ao contrário


Quando nos permitimos trair alguém é porque já não estamos bem na relação. E ao não estar bem podemos nem estar a falar de sexo ou falta de amor. Por vezes o simples facto de estarmos ali, e a rotina ser sempre a mesma, os hábitos não mudarem faz com que nós nos acomodemos. Acreditamos que aquela será a pessoa que nos vai acompanhar o resto da vida. Que nos vai dobrar as meias, que nos vai dar a cerveja durante o jogo de futebol lá em casa com os amigos, que nos vai cobrir com uma manta quando adormecemos no sofá. No fundo nem sequer pensamos muito no que nos falta. Sequer vemos que nos falta muita coisa. E quando falo em traição, não me refiro apenas à traição física. Quantas vezes damos por nós a dizer em voz baixa, se soubesse o que sei hoje, ou ainda, se o arrependimento matasse. E porquê? Porque o fulano com quem vivemos é um ciumento de primeira, a gaja com quem casámos não gosta de passar a ferro ou já está gorda e cheia de celulite, o imbecil não gosta de fazer nada e ainda nos trata como se da mãe dele nos tratássemos, e a parvalhona de um raio não percebe que os meus amigos, o carro e os jogos do Benfica são sagrados portanto não me chateie com visitas familiares em dias de jogo.
As pessoas não estão para se chatear. Tem medo de não conseguir encontrar mais ninguém, tem medo de não conseguir viver sozinhas, tem medo que só um ordenado não chegue para pagar as contas todas. Não estão para viver num quarto mas também não tem dinheiro para alugar uma casa. E na maior parte das vezes existem ainda meia dúzia de catraios a correr pela casa. Sendo assim olha, vamos lá continuar nesta relação que já deu o que tinha a dar há muito tempo mas que apesar de tudo não é assim tão má!
Eu gosto de chegar a casa e falar, falar até me faltar a voz. Falar de coisas sérias e importantes. Contar anedotas. Rir-me de situações engraçadas daquele dia. Mas também gosto de chegar a casa, brincar com o meu cão, enfiar-me na banheira, ligar música ambiente e deixar-me ficar ali em silêncio, sem ser incomodada com perguntas do género: “o que se passa?”, Vou sempre responder: “não se passa nada” e nem vale a pena insistirem. São os meus momentos.
Ultimamente a minha vida anda meio virada do avesso. Aliás, não me lembro de algum dia lhe poder chamar uma vida normal. Sinto-me num mundo de pernas para o ar. Gosto de viver no limite! Gosto de não fazer planos e nunca saber como vai acabar o meu dia. Mas não gosto de surpresas. Não gosto de magoar as pessoas. Até mesmo as que não conheço.
Tenho uma amiga que me diz tudo o que devo fazer. No fim também me diz que sabe que não o vou fazer desta forma. Nós já vimos este filme. A história repete-se. Desta vez parece que vai terminar de forma diferente. Confesso que é mais confortável o outro fim. Quando se é uma segunda escolha na vida de alguém, apesar de nos sentirmos uma valente merda sabemos que mais cedo ou mais tarde deixamos de a ser, estamos outra vez lavadas em lágrimas e a pensar no filho da p*** que nos enganou com falsas promessas e nos disse que nos amava, mas passados quinze dias estamos outra vez de cara alegre e a viver a vida. O mesmo filho da p*** que nos deixou contínua com a sua vidinha medíocre e a pensar que se calhar afinal estava ali a escolha que ele não fez e olha, temos pena!
Diferente é quando afinal passamos de segunda a primeira escolha e a nossa vida ganha outro sentido. A responsabilidade é muito maior a partir desse momento. Temos sempre aquela vontade de fazer tudo certo mas temos também o medo de não termos sido a escolha certa. E se afinal não formos quem pensam que somos? Se não estiverem preparados para aquilo que nos podemos tornar num dia mau? E o pior de tudo é, quando quem fez de nós a primeira escolha continua ainda a ser a nossa segunda, mesmo que temporariamente, por uma serie de fatores que podem não parecer importantes e relevantes aos olhos de muitos, porque no fundo são interpretados como sinal de cobardia e falta de coragem, mas que para nós e para uma minoria podem não causar tantos danos. A grande questão aqui é: e se ao tentarmos minimizar estragos no coração dos outros avariamos o nosso e o de quem nos é tão importante?
Há ainda aquela altura em que todos os nossos sentimentos são colocados em causa por outros. Em que nos questionam se temos mesmo a certeza e em que nos acusam de nunca sermos capazes de amar aquela pessoa como ela merece.
Mas será que é apenas a dor dos que foram traídos a falar? Será que é apenas a opinião de quem não conseguiu algum dia atingir um estado de espírito tão pleno como o que sentimos? Será que é alguém que apenas deixou de acreditar no amor e consequentemente acha que não nos devíamos deixar levar por devaneios do coração?
Não sei bem se algum dia vamos ter respostas para determinadas perguntas. O que sei é amar não é crime. Querer não é pecado. Sei que muitas vezes há pessoas que perdem! Mas quem nunca perdeu? Quem nunca sofreu de amor? Quem nunca foi traído? Quem nunca foi deixado? Eu já perdi. Já trai. Já fui traída. E já sofri tanto por amor. Por amores diferentes. Mas sempre por amor. E não há dor maior do que perdermos alguém que amamos. Um pai, uma mãe, um amigo, um cão, um namorado.
Recuperar a perda é sempre difícil e cada um de nós tem formas diferentes de o fazer. Alguns de nós fechamos-nos na nossa concha, outros procuram formas de distração entre amigos e familiares. O que nunca podemos fazer é culpar os outros por erros nossos. Não podemos agir como se a tudo tivéssemos direito, até magoar os outros, outros esses que, minutos, dias antes dissemos amar incondicionalmente. Magoar quem não conhecemos pode ser fácil, até confortável, sentimos um alívio enorme depois de vomitarmos dezenas de palavras feias, mas e depois? Ficamos bem? NÃO!! Ficamos na mesma ou pior ainda. Perdemos na mesma quem amamos e já não há volta a dar. Por isso é que muitas vezes digo que há alturas na nossa vida que temos de pensar e deixar de sentir. Se resulta sempre? Não sei. Mas vale sempre a pena tentar.


1 comentário:

Gaga disse...

O Amor é fodido essa e a minha conclusao.
Mas a vida sao capitulos por muito que se queira que aquele capitulo nao acabe vem sempre outro a seguir, melhor ou pior nao sabemos.