sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Apenas com o tempo...

"(...)
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

(Para tudo na vida precisamos de tempo. Há um tempo para tudo. Mesmo quando pensamos não ser o tempo certo! De que nos vale adiar o inadiável?)

E com esta música termino o raciocínio:

Tanta coisa que o meu corpo arrasta e tinge pardacento.
Cada ruga que em meu rosto rasga e é minha para sempre.
Que eu não sei apagar ainda as que ganhei!

Cada coisa que me foi contada aviva a minha mente.
Mesmo a sobra da mais vil desgraça arrisca a ir em frente.
Não se tem a pensar naquilo que não tem.

Olha as mãos se não tens nada,
que a vida joga à sorte p'ra quem quer!
Chega só na dose errada, 
a às vezes sem se ver!

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