domingo, 26 de fevereiro de 2012

An Usual Nightmare

Todas as noites tenho o mesmo sonho. Inicialmente era um sonho. Era assim que te relembrava. Tinha esperança que se tornasse real. Tornou-se no meu maior pesadelo e começo a não saber lidar com ele.
Não me lembro da tua voz nem do teu cheiro. Mas todas as noites te reencontro e te perco. Continuas bonito. Não envelheceste um único dia. Sorris sempre.
Sei que não era a tua preferida. Ambos tínhamos um feitio difícil e eram muitas as nossas divergências. Eu era uma criança, não sei bem que tipo de conflitos podem ter um pai e uma filha nessa altura. A verdade é que me lembro de algumas discussões.
Pouco tempo depois de ter nascido fui viver com uma tia em terceiro grau. Apesar de vivermos relativamente perto não tenho muitas memórias nossas. Confesso que a maioria são más e dolorosas. Não de algum mal que me tenhas causado directamente mas ainda assim violentas para uma criança. 
Podia falar sobre isso mas não devo. Não por mim. Apenas para preservar a vida das mais novas e para tentar guardar uma boa imagem tua. 
Acho que tenho saudades tuas. Não que o mereças. Não consigo evitar. 
Sou uma pessoa de certezinhas absolutas sabes?! E esta incerteza que já se prolonga há 14 anos tem vindo a dar cabo de mim. 
Durmo pouco, estas insónias não me largam e quando durmo fazes o favor de me atormentar. Não és tu, é o teu fantasma que não me larga! É esta vontade que tenho de te dizer umas coisas. Mas quando começo a chegar perto de ti tu desapareces, como se fosses fumo! E o pesadelo acaba com um grito aflito que te procura. Tu partiste, não que tenhas morrido, mas é quase isso, melhor seria se assim tivesse sido. Sei que é horrível de se dizer mas sinto que te perdi para sempre sem nunca saber porquê, para quem e para onde.
Sou boa pessoa. Sou mesmo boa pessoa. Às vezes (quase sempre) boa demais perante este mundo que me apresentaste. 
Obrigada por tudo o que me obrigaste a conhecer, ainda que mau. Assim, e ao contrário do que se passa com a maioria dos jovens, consegui perceber o que queria para mim. Posso não ter feito as melhores escolhas. Posso não ser a filha perfeita, mas sei que no fundo te ias orgulhar de mim.

Quando era adolescente gostava de te ter perguntado:
1- Como sabemos que um rapaz gosta de nós?
2- Ajudas-me com os TPC de matemática?
3- Achas que sou bonita?
(entre tantas outras)

Consegui viver sem as tuas respostas. Aprendi a fazer perguntas com respostas de escolha múltipla.
O resultado esta sempre dentro dos meus parâmetros de aceitação possível.
Mas o que te pergunto enquanto adulta é algo para o qual não encontrei solução.

Como se matam as saudades?

Um beijo da tua filha.
Andreia

1 comentário:

ines disse...

mana gostei muito alias gosto de tudo o que escreves! ta muito bom bjocas